O QUE SIGNIFICA "ALMA VÍTIMA"?
São Paulo estava encarcerado em Roma, durante o biênio de 61 a 63. Sofria pelo impossibilidade de ir em Missão, já que era possuído de zelo apostólico para percorrer o mundo a pregar o evangelho. Mesmo prisioneiro, São Paulo mantinha comunicação com os cristãos das mais distantes regiões. Foi por esse motivo que escreveu aos cristãos de Colossas (Ásia menor) essa carta, onde encontramos o versículo que nos atentaremos a aprofundar.
São Paulo, com seus sofrimentos de prisioneiro não se deixa abater, pelo contrário, justamente esses sofrimentos se tornam para ele motivo de alegria…Porque têm o valor de colaboração na obra de Redenção do mundo!
TODA A VIDA DE CRISTO FOI REDENÇÃO
Nos explica Dom Estevão:
"...Neste momento, encontro minha alegria nos sofrimentos que padeço por vós, e completo (antanapleróo) em minha carne o que falta às tribulações (toon thlípseon) de Cristo, em favor do seu corpo, que é a Igreja» (Col 1,23s).
Vamos entender essas duas palavras:
-Antanapleróo é vocábulo que, em toda a Escritura, só aqui aparece. Possui extraordinária força de expressão, pois se compõe de:
anti = em lugar de;
aná = para cima, até o alto;
pleróo = encher.
Ou seja: Significa (acabar de encher até o auge, em lugar de outrem…)
ou(…continuando a obra de outrem).
… toon thlípseon. A palavra thlípseis, tribulações, em grego é mais forte do que pathémata, padecimentos. Designa tudo que Cristo suportou de penoso na sua vida cotidiana desde o nascimento no presépio até a morte de cruz. Os Evangelhos nos referem, sim, que, além de padecer as sangrentas dores finais de sua vida, Jesus quis sucessivamente experimentar a fome (Mt 4,2), a sede (Jo 4,7; 19, 28), o cansaço (Jo 4,6), a pobreza de não ter nem sequer onde pousar a cabeça (Mt 8,20)…, enfim tudo aquilo que possa ocorrer de doloroso na vida de um homem aqui na terra, qualquer que seja a sua categoria social."
A OBRA DE CRISTO NÃO FOI SUFICIENTE?
Jesus se ofereceu ao Pai, com seus sofrimentos abraçou a Cruz. E essa oferta tem valor infinito, porque foi sacrifício de um Homem-Deus, eterno e completamente agradável ao Pai.
Portanto, nada faltou aos padecimentos de Cristo no que tange o plano do merecimento. Cristo, por sua vida e morte, adquiriu todas as graças necessárias e suficientes para a salvação de todo gênero humano, sem exceção.
Porém uma coisa é ADQUIRIR, outra coisa é APLICAR.
Sabemos que pela cruz de Cristo todos nós sem excessão fomos salvos. Porém ainda assim muitos homens vão para o Inferno, porque não basta adquir a salvação garantida por Cristo, mas se faz necessário aplicar essa redenção na nossa vida para gozar de seus benefícios.
Ou seja: o Sacrifício redentor de Cristo, adquiriu imediatamente a plenitude de seus frutos apenas na santíssima humanidade de Cristo; somente esta ressuscitou como nova criatura ( 2 Cor 5,17), isenta de todas as consequências do pecado.
Agora é necessário nós nos incorporamos a Cristo homem novo, para participar da sua ressurreição e glória.
É preciso percorrer o mesmo caminho trilhado pelo Senhor, isto é, sofrer em união com Cristo, participar da Paixão redentora, assimilando-a a si, a fim de aplicar em nós os efeitos desse sacrifício perfeito de Cristo no dia da ressurreição dos corpos.
"Se alguém Me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-Me’” (Lucas 9,23).
Os cristãos neste mundo passam pela via do sofrimento, da cruz, do sacrifício,da renúncia, e assim até o fim dos séculos, podemos dizer que a Paixão de Cristo se vai estendendo ou desdobrando em cada cristão que sofre; um cristão que sofre, é outro Cristo crucificado. São Paulo afirma que, quando uma pessoa sofre em espírito cristão, isto é, como membro vivo do Corpo Místico, já não é um simples filho de Adão que padece em castigo do pecado, mas é o Cristo que nele sofre para estender a ele a obra da Redenção.
O que bem define isso, é São Paulo que afirma que seus sofrimentos o faz participante da Cruz de Cristo.
"Estou crucificado com Cristo. E, se vivo, não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gál 2,19s).
Podemos dizer: se padeço, não sou eu que padeço, nas Cristo que padece em mim. Cristo que contínua em mim, que sou parte do seu corpo, a obra da redenção.
S. Agostinho, consciente dessa realidade, falava da "Paixão total de Cristo, que sofreu enquanto é nossa cabeça, e que continua a sofrer em seus membros, isto é, em nós" (In Ps LXI Migne 36, 731).
São Paulo Apóstolo ainda amplifica essa realidade: a Paixão do Senhor, que se perpetua em cada cristão, vai beneficiar não somente ao que sofre as suas dores, mas também a toda a comunidade, ou seja, aos outros filhos da Igreja por isso diz que sofre: "… em favor do Corpo de Cristo, que é a Igreja."
Cada um, portanto, mesmo prostrado no cárcere ou no leito de doença, em espírito de santidade, é portador e extensão da Redenção do calvário em favor do próximo,da Igreja, do mundo, desde que padeça como membro vivo do Corpo Místico de Cristo.
AS ALMAS VÍTIMAS:
Na história da Igreja, existiram homens e mulheres, que incorporaram de forma tão excelente essa verdade que compreendemos acima. Que viveram um vida redentora, onde verdadeiramente foram crucificados com Cristo. Suas vidas foram verdadeiras perpetuação da Cruz de Cristo.
Essas almas eram tomadas de tão grande amor por Deus, que passaram a sentir o coração de Cristo em seu próprio coração. De tal modo Cristo passou a viver nessas almas, que elas se configuraram ao Senhor em sua oferta redentora.
Aqui vamos listar apenas algumas dessas Almas vítimas de expiação:
BEATA ALEXANDRINA DE BALASAR
Jesus disse a essa grande alma vítima essas palavras : “Tu serás para o mundo o que outrora fui Eu e continuo a ser”.
Jesus foi e continua a ser o nosso único Redentor e a Beata Alexandrina, colaborando nessa mesma redenção tornou-se uma alma vítima, nossa intercessora, através dos seus sofrimentos, junto do Trono divino, porque foi vítima, como a Vítima do Calvário, Jesus. Ela como Paulo, através do seu sofrimento completava o que faltou as tribulações de Cristo em favor de todos nós.
Alexandrina Maria nasceu em Balasar (Portugal) no dia 30 de março de 1904, aos 14 anos não hesitou em jogar-se pela janela para fugir de três homens que ameaçavam a sua pureza. As consequências foram terríveis, mas não imediatas; depois de alguns anos, ela foi obrigada a ficar em cama por causa de uma paralisia que foi agravando-se durante os trinta anos que lhe restou de vida. Ela não se desesperou e abandonou-se nas mãos de Jesus com essas palavras: “Jesus, Tu és prisioneiro no tabernáculo como eu sou na minha cama, assim fazemos companhia um ao outro”.
Em seguida começou a ter experiências místicas cada vez mais fortes que começavam numa sexta-feira, 3 de outubro de 1938 e terminavam no dia 24 de março de 1942. Experimentou 182 vezes, todas as sextas-feiras, os sofrimentos da Paixão sem Estigmas visíveis, e desde 1942 até o dia da sua morte, Alexandrina alimentou-se unicamente da Eucaristia por mais de treze anos.
SÃO PADRE PIO
Foram cinco as chagas de Cristo durante a crucificação: uma em cada mão, uma em cada pé e uma do lado do coração. Ao longo da história do cristianismo, alguns santos receberam de Deus os chamados “estigmas”: a graça de sofrer as chagas de Cristo no próprio corpo não só espiritual, mas fisicamente, de modo visível ou invisível.
No dia 20 de setembro de 1910, o padre Pio de Pietrelcina recebeu os estigmas invisíveis. Em 1918, as chagas ficaram visíveis e duraram nada menos que cinquenta anos, até 23 de setembro de 1968.
TERESA NEWMAN
Teresa Neumann (em alemão, pronuncia-se: “nóiman”) nasceu em Konnersereuth, Baviera, em 09 de abril de 1898. Até a sua morte em 1962, aconteceram em sua vida, surpreendentes fenômenos como os estigmas (misteriosas chagas nos pés, mãos e costas). Chagas resistentes a todas as curas possíveis, que se abriam todas as quintas feiras.
Também outros fenômenos maravilhosos como o conhecimento dos segredos do coração e a bilocação. Porém, o mais extraordinário de todos, era o fenômeno eucarístico: durante 32 anos nada comeu nada bebeu, pesando sempre 55 kg e isto apesar de perder a cada ano, através de suas feridas, cinco litros de sangue. Sua força estava na comunhão diária. Sofria as dores da paixão em êxtase, sangrava a cabeça, as mãos e até mesmo os olhos emanavam lágrimas de sangue.
Estigmas sangrantes, chagas incuráveis e muitos sofrimentos: ela aceitava tudo pela conversão dos pecadores unida a cruz de Cristo.
DOROTÉIA MENEGON FARINA
Dorotéia Menegon nasceu no dia 13/06/1911 em Veranópolis-RS, Brasil. Agricultora cursou o antigo primário incompleto e casou-se com Artibano Farina e como lei da época passou a assinar-se Dorotéia Menegon Farina.
Boa esposa e mãe profunda devota de Santo Antônio e de Nossa Senhora da Salete, promotora do apostolado da oração a Jesus crucificado, catequista também foi uma das introdutoras da visita da capelinha domiciliar.
Aos 33 anos de idade Mãe de 4 filhos, foi acometida por uma doença grave, fez a Deus um pedido que se ficasse curada aceitaria passar em todas as quaresmas, de sua vida, todas as provas, perseguições, injurias, ofensas, sofrendo em seu corpo todas as chagas de Jesus Cristo.
A terrível doença levou-a a morte, sendo que após o velório de 24 horas voltou a vida normal.
Recebeu aparições da Virgem Maria durante 44 anos em 5 datas anuais, sendo elas: 6 de janeiro, 11 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, 3 de maio e 14 de setembro. Também recebeu estigmas e sofreu muitas perseguições sobretudo do Clero local.
Em 1987 acometida de câncer, no mês de agosto passou toda a responsabilidade ao povo leigo entregando ao senhor Jandir Picoli todas as orientações, as mensagens de Nossa Senhora da Santa Cruz escritas em próprio punho, e nesses dias previu sua morte.
No dia 3 de maio de 1988 aconteceu a ultima aparição de Nossa Senhora à vidente que veio a falecer no dia 28 de maio do mesmo ano.
PODERÍAMOS CITAR INÚMERAS ALMAS VÍTIMAS.
Foram muitos os homens e mulheres que se ofereceram a Deus como almas vítimas para cooperar com a obra redentora.
Muitos foram estigmatizados, outros sofreram a paixão de Cristo porém sem Estigmas visíveis, outros sofreram a enfermidade no leito.
São tidos cooperadores da Cruz, Almas unidas ao crucificado, que passaram pelo calvário dessa vida se ofertando em união a Cristo.
- Santa Gemma Galgani
-Catalina Rivas
- Lola de Rio Pomba.
- Ana Catarina Hemerich
- Beata Elena Aiello
- Serva de Deus Catarina Szymon
- irmã Amália Aguirre
-Teresa Musco
E outros.
Cada uma dessas Almas místicas, são um dom extraordinário de Deus para a Igreja.
De igual modo, o mundo precisa de vítimas, vítimas que seguindo o exemplo da grande Vítima do Gólgota, se deixem crucificar generosamente, colaborando assim estreitamente com Ele e “completando nos seus corpos frágeis o que faltou à Paixão de Cristo”. Eis porque este grito do Senhor deverá ecoar continuamente aos nossos ouvidos : “Ai do mundo sem a Eucaristia ! Ai do mundo sem as Minhas vítimas, sem hóstias comigo continuamente imoladas !”
Por: Pablo Soares (fundador da comunidade Avivando Altares)
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